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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ler por prazer: uma viagem sem fim


Iniciei no Magistério em 1992, no interior do Estado de São Paulo, em Euclides da Cunha Paulista. No ano seguinte, mudei-me para Santo André, onde trabalhei por cinco anos em sala de aula na EE Antonio Adib Chammas, na época uma Escola Padrão.
Sempre participava das atribuições de aula, como ACT (atribuição em caráter temporário), uma das últimas colocadas na minha disciplina, Língua Portuguesa, por isso sempre ficava com turmas de 5ª e 6ª séries.
Meus alunos eram oriundos de bairros e comunidades próximos à escola, alguns até do município vizinho, São Bernardo do Campo.
Em um desses anos resolvi realizar um projeto de leitura com minhas turmas. Juntei livros de literatura infanto-juvenil, que ganhava das editoras, mais alguns emprestados da biblioteca da própria escola. Coloquei-os, mais ou menos uns 50 volumes de títulos diversos, fiz uma lista de todos eles para poder controlar o empréstimo em sala de aula. Reservava os últimos quinze ou vinte minutos das aulas para a chamada leitura por fruição. Por ser uma leitura por prazer não cobrava resumos escritos, nem que o aluno tivesse a obrigação de terminar de ler o livro se não gostasse, logo poderiam trocá-lo por outro.
Havia uma lista aonde ia anotando quantos livros leu cada aluno, apenas com um risquinho. Tanto podia ser um livro dos mais difíceis, como dos mais simples, pois sempre colocava livros infantis destinados àqueles alunos, que ainda tinham alguma dificuldade com a leitura.
Quando iniciei esse projeto em uma das salas, fui surpreendida por uma aluninha de 5ª série; moradora do Sítio dos Vianas, comunidade que fica na divisa entre Santo André e São Bernardo do Campo; que ao ouvir as orientações sobre o andamento do projeto, me perguntou “Prô, posso trazer o livro que meu pai está lendo? Ele é aluno da suplência, está lendo um livro, que eu também gostaria de ler.” Prontamente disse que sim, por isso na aula seguinte ela iniciou a leitura do livro do pai durante as aulas.
Nem preciso dizer que passados muitos anos, ainda mantenho contato com essa aluna, agora adulta, estudiosíssima, já cursou Fatec, continua uma assídua leitora.
Ela me marcou pelo desejo de ler, de compartilhar o prazer da leitura com seu pai, de poder comentar a leitura com ele, de ser cúmplice dele nessa maravilhosa aventura pelas páginas do livro.
Mas não foi somente ela. No decorrer do ano, via meus alunos lendo diversos livros, trocando quando não gostavam, comentando suas leituras em sala, como também constatava a fila para ler alguns títulos bem avaliados pelos amigos.
Dessa experiência posso dizer com toda certeza: “Vi, nos olhos dos meus alunos, a alegria de serem leitores!”

Autora: Maria S. Delfiol Nogueira - Professora de Português 
Texto que participará na Fase Escola do Concurso Ser Autor 2010 (SEE/CBL), na Categoria Memórias Literárias

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